sábado, 7 de janeiro de 2017

Minha coleção Phantom System Gradiente

Bonitão

Meu primeiro contato com o Phantom System se deu em 1989, na casa de um amigo que tinha acabado de ganhar o console de natal. Ele estava esfuziante com o presente, e nossa turma curiosa a respeito do aparelho. 

Nos meses seguintes, em sessões de jogatina regadas a "Ki Suco", lembro que experimentamos alguns jogos quase tão abomináveis quanto aquela bebida, como "Sexta-feira 13" e "Caça-Fantasmas". Felizmente, também jogamos alguns ótimos, como Super Mario Bros, Bad Dudes, Arkanoid e, principalmente, o viciante "Gol de Craque" (Goal!).  

Na época, eu tinha um Master System, e embora estivesse feliz com o meu console novinho em folha (que eu ganhei um ou dois meses antes), não deixei de invejar o design "arrojado" do Phantom System e o aspecto "ergonômico" de seus controles.

O Phantom System era imponente. Lançado pela Gradiente em 1988 com direito a uma campanha publicitária de rádio, TV e jornal, foi o primeiro clone do Nintendo Entertainment System (NES) fabricado em território brasileiro e, apesar de não ser um produto oficial da Nintendo, tinha boa durabilidade, isto é, não era simplesmente uma cópia barata com componentes de baixa qualidade. Nesse sentido, pode ser classificado como um console de 3ª geração (aprox. 1983-1990), da mesma forma que o próprio NES e o Master System.   

Anos 1980 na veia

Hoje em dia, considero que o único elemento meio questionável do Phantom são seus controles. Embora sejam visualmente semelhantes aos do Mega Drive, a qualidade não é nem de longe a mesma. O botão direcional é duro demais e a ordem original dos botões de ação foi invertida, o que pode confundir quem se acostumou com o controle original do NES e, teoricamente, até inviabilizar alguns macetes. Na época em que conheci o console, contudo, a verdade é que isso não fez a menor diferença - e os controles originais do Master System e do NES não eram exatamente muito bons também. 

O Phantom System da minha coleção foi comprado em 2015, longos vinte e seis invernos depois daquele primeiro contato. Ao contrário de mim, contudo, ele está novinho. Veio com todos os itens e documentação, incluindo três posters, como este da foto abaixo. "Nunca foi tão emocionante ficar em casa". Bem a cara das propagandas da época, não é? 

Minha pequenina coleção

Infelizmente, ainda não tenho muitos jogos. Dos que tenho, meus favoritos são Rolling Thunder, Knock Out e Super Mario Bros - ou melhor, "Super Irmãos", na preciosa reinterpretação da Gradiente, com direito a um Mario com aspecto de drogado na etiqueta (label) e manual do cartucho.  

Mario doidão

Ao contrário do que eu esperava quando comprei o Phantom, os jogos publicados pela Gradiente ou por outras empresas brasileiras não são particularmente baratos, e variam de R$ 80,00 a R$ 150,00 no Facada Mercado Livre a depender do estado de conservação e da franquia.  Há alguns baratos, como "Gol de Craque" (R$20,00 - 40,00), além de tralhas como Ghostbusters que, para mal dos meus pecados, veio de brinde junto com o console. 

Há uma história curiosa sobre a criação do Phantom System. Originalmente, a fabricante Gradiente tinha decidido negociar com a Atari o lançamento do Atari 7800 no Brasil, mas percebeu a tempo que o console de maior sucesso no mercado norte-americano era o NES.  

Contudo, como a Nintendo não se interessava em licenciar o NES e, ao mesmo tempo, a Gradiente já tinha as especificações do Atari 7800, a empresa brasileira decidiu usar o modelo da carcaça do Atari 7800 (praticamente o Phantom com outra cor) e, ao mesmo tempo, clonou o padrão da Nintendo aplicando engenharia reversa em um console de NES adquirido nos Estados Unidos.  

Para confundir ainda mais a Nintendo, a Gradiente chegou a criar uma marca de mentirinha, a Falcon Soft, produzida por uma tal "G. Industrial",  para fabricar alguns dos jogos. Na verdade, a "G. Industrial" era a própria Gradiente, que se escondia sob outro CNPJ para evitar um "uppercut" jurídico da Nintendo ou de outro detentor de propriedade intelectual. 

Depois que comprei o meu Phantom, resolvi perguntar diretamente à Gradiente se essa conexão entre o Phantom System e o Atari 7800 era, de fato, verdadeira, e eles foram bacanas o suficiente para me responder e confirmar a veracidade da história.

Era verdade

A troca pelo padrão NES foi uma boa decisão comercial da Gradiente, uma vez que o Atari 7800 não foi um sucesso de vendas em lugar nenhum do mundo. Ao mesmo tempo, é uma pena para os colecionadores brasileiros, que perderam a oportunidade de ter um outro console Atari fabricado no Brasil (além do mítico Atari 2600), sendo certo que o padrão Nintendo acabaria por ser clonado mais cedo ou mais tarde por empresas como a CCE e a Dynavision, que, aliás, lançaram posteriormente seus próprios clones do NES.

Seja como for, passado algum tempo a Gradiente acabou entrando em acordo com a Nintendo para a fabricação do Super Nes, o console de 4ª geração da Nintendo, em uma joint-venture com a fabricante de brinquedos Estrela que deu origem à marca Playtronic. 

Na esteira desse acordo, veio também uma autorização para fabricar o NES original, que passou a ser vendido como uma "opção econômica" da mesma forma que a Tec Toy comercializava o Master System mesmo após o lançamento do Mega Drive. 

Em certo sentido, não é absurdo achar que o Phantom System é o "verdadeiro" nintendinho brasileiro. Ao contrário do NES da Playtronic, vendido como opção econômica, o Phantom foi, de fato, um verdadeiro produto "premium" em sua época. 


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